Thomas More - O bem individual é submetido ao bem geral
Thomas More (1478- 1535). A forma latinizada de seu nome é Thomas Morus, e More é a forma inglesa. More nasceu e morreu em Londres, Inglaterra. Era filho de juízes do banco dos reis. Com quinze anos virou pajem do cardeal Morton, da Cantuária. Foi um pensador humanista, otimista em relação à solução dos problemas, bastando para isso bem conduzir a razão e obedecer a natureza. Tinha muitas relações e amizades, apesar de reconhcer injustiças nas nações da Europa. Em 1497 foi terminar os estudos em Oxford, onde tomou contato com Desiderius Erasmo, filósofo e teólogo de Rotterdam, Holanda. Se tornaram grandes amigos, e More era como um discípulo de Erasmo, mais velho, que dedicou à ele seu principal livro Elogio da Loucura. Mantiveram correspondência. Thomas More chegou à chanceler da Inglaterra e escrevia para Erasmo: “Não podes avaliar com que aversão me encontro nesses negócios de princípe, não há nada de mais odioso do que essa embaixada.” More falava de sua missão diplomática de resolver uma importante dissidência entre Henrique VIII, a quem chama de invencível e dono de um gênio raro, e o princípe Carlos da região de Castela.
Henrique VIII fundou o anglicanismo, religião oficial da Inglaterra, para poder se casar de novo. Isso não era permitido pela Igreja Católica, e Henrique, consultando o Papa, descobriu que só podia casar com outra mulher em caso de morte da atual. Certemente por algum problema genético, Henrique só tinha filhas mulheres. Mas achando, que o defeito estava nas mães, mandou matar diversas esposas. Ele queria um descendente homem. O principal motivo da fundação do anglicanismo foi a permissão do divórcio. More era católico e não aceitou a nova religião. Em 1532 pediu demissão do cargo. Em 1533 ofendeu Ana Bolena, uma das esposas de Henrique VIII, não assistindo sua coroação e não prestando fidelidade aos seus descendentes. Na religião anglicana o chefe de estado era o chefe de religião. Desgostado, Henrique condenou More a prisão perpétua e depois à morte por crime de alta traição. Foi decapitado em 1535.
Seu principal livro é um livro político, A Utopia, que em grego significa “não lugar, lugar que não existe”. A Utopia é uma ilha afastada do continente europeu, mas no livro, Rafael Hitlodeu (Hitlodeu quer dizer aproximadamente nonsense, contador de disparates) não especifica em que oceano ela fica, só diz que foi parar lá depois de embarcar numa das viagens de Américo Vespúcio, e voltou lá depois. AILha de Utopia abarca a sociedade ideal, esse termo depois virou sinônimo de coisa ideal, inatingível, mas esse significado semântico foi dado por More. Há jogos de palavras também com o nome do rio Anidro, sem água, do princípe, Ademo, sem povo e da capital Amauroto, evanescente, que some como miragem.
Pode-se considerar o termo utopia como o sinônimo de uma coisa boa, porém não alcançável. Isso dá um certo tom pejorativo. Mas será que é válido pensar em utopias? Por exemplo, no início do século XIX, era uma utopia a escravidão acabar ou o homem voar, mas isso acabou ocorrendo depois.
Thomas More admirava Platão e tirou a inspiração para A Utopia da República. Hitlodeu cita expressamente sua admiração à Platão. Podemos condiderar certas influências de More ao escrever o livro. Ele era um humanista muito culto, e conhecia as línguas clássicas, grego e latim. Na república, Platão nos falara de uma cidade ideal, onde os reis-filósofos governariam. Os dois livros se passam na forma de um diálogo, que é quase um monólogo. Na República de Platão, não havia a família, os filhos eram tirados dos pais e os casamentos eram selecionados de modo a garantir a eugenia. More preserva a família, a eleva à categoria de educadora. Toda a sociedade uropiana é familiar, More chega a falar que a Ilha é uma “Grande Família”. Na história do livro, More, em primeira pessoa conta que conheceu algumas pessoas durante sua viagem diplomática, que o afastou mais de quatro meses da família e da pátria. Uma dessas pessoas era o já citado Rafael Hitlodeo, viajante experimentado, que sabia diversas coisas de diversos países ao redor do globo. Assim, o livro passa para o relato de Rafael, que inicialmente fala de povos como os acorianos e macorianos, suas sociedades e dos polileritas, seu sistema de justiça. Esse povo, de uma nação dependente da Pérsia, vivem longe do mar numa terra fértil. São pacíficos, e quando alguém é apanhado em furto, é obrigado a devolver o produto do crime ao dono, e não ao Estado. Nos rebeldes e ociosos são aplicados castigos físicos. Os criminosos são marcados na cabeça, e transformados em escravos. More descreve uma discussão sobre ser possível ou não aplicar essa legislação na Inglaterra. Nessa discussão, um bufão ridiculariza os freis, chamando-os de vagabundos, e o frei ali presente fica colérico. Mas More era como Erasmo, achava o cristianismo bom em seu príncipio, mas com a mensagem deturpada através dos séculos. Para More, “torceram o evangelho como se fosse uma lei de chumbo, para modelá-lo segundo os maus costumes dos homens”.
Uma sociedade justa deveria ter leis pouco numerosas (More era advogado) e as riquezas repartidas. A principal crítica social de More gira em torno da abolição da propriedade privada. Adverte que a igualdade seria impossível com a propriedade. É um dos primeiros a atacar a propriedade na era cristã. Na República de Platão, os cidadão adotavam um regime de comunhão de bens. Proudhon mais tarde chamaria a propriedade de roubo. Na Utopia existe também a comunhão de bens. No livro segundo o personagem Gabriel descreve a Utopia:
É uma ilha em forma de semi-círculo, de quinhentas milhas de arco. Tem uma fortaleza e é inacessível para quem não é nativo, pois existem poucos caminhos que escapam dos rochedos. O nome da ilha vem de seu fundador, Utopus, que primeiro se apoderou dela. Existem cinquenta e quatro cidades. Na capital, são trinta famílias com quarenta indivíduos cada. Cada família é dirigida por uma filarca, ou aquela que ama. Existe renovação anual do trabalho agrícola, uma das principais atividades. Todos os meses há uma festa. Tem mel e sucos de frutas. Fazem música nas horas de lazer, além de outras coisas.
Nas cidades da Utopia, grande parte das casas são de três andares. Tem palacetes também. Eles são governados por um príncipe. As crianças são educadas nas escolas. Além de agricultores,os utopianos são tecelões, pedreiros, oleiros e carpinteiros. As mulheres trabalham nos serviços mais leves, como a tecelagem. Todos usam as mesmas roupas. Vestir roupas luxuosas é censurável, pois elas incitam a desigualdade e a falsa superioridade. A vaidade, no livro é criticada em diversos aspectos.O trabalho não é esgotante, são seis horas por dia, mas todos trabalham. Dessa forma, não sãos as massas trabalhadoras que tem que fazer o trabalho dos vagabundos e parasitas, como por exemplo certos nobres e religiosos. More retoma o exemplo do zangão da República, que não trabalha.
O mais velho é o chefe, depois os maridos, que são servidos pela suas esposas. As crianças obedecem aos pais e todos respeitam os mais velhos.
More critica o orgulho e a vaidade, que levam ao luxo supérfluo. Efetivamente, diz que todos os países do mundo adotariam o regime de Utopia se não fosse o orgulho, “esse pai de todas as pestes”. Utopia não tem dinheiro. Existem hospitais e médicos, apesar destem serem pouco requisitados, pois todos são saudáveis. É uma das profissões mais respeitadas. O prazer não está ligado ao luxo. Esse leva a um “flaso prazer”, que deve ser descartado, por ser na verdade desagradável. O verdadeiro prazer pode ser mental ou corporal. Um prazer mental, pode vir, por exemplo quando se compreende uma coisa. O prazer corporal pode também vir de várias formas, como no ato de comer, de extrair escrementos, ou de aliviar algum excesso, como é o caso da relação sexual. Mas o principal prazer corporal é a saúde contínua. Aprovam a volúpia que não leva ao mal. More descreve o que ele consideram volúpia, não apenas a sensual, mas todo o prazer do corpo, que deve ser cultivado. Apesar de por fora não parecerem, todos são vigorosos. A saúde perfeita tem equilíbrio entre todas as partes do corpo.
O bem individual é submetido ao bem geral.
Tem ouro e prata importados, mas esses estão abaixo dos ferros, e não são valorosos. Na religião acreditam na imortalidade da alma. Deus existe e recompensa a virtude. Os utopianos acreditam em felicidade após a morte, por isso não choram os mortos, só os doentes. A virtude se consegue vivendo segundo a natureza. A razão leva adoração de Deus, os dois estão em comunhão. Só existimos por causa de Deus. A religião de Utopia funciona como uma espécie de regulador social, pois é do temor à Deus que advém a busca por justiça. Pois, se não pensarmos em uma vida após onde seremos julgados, todos buscarão todas as espécies de prazer, sem nenhum limite. A religião tem algum preceitos básicos, com influência (do More autor) de escolas diferentes e até mesmo contrárias, como a epicurista e estóica. O catolicismo também deixa sua marca, e Hitlodeu conta, que conseguiu converter vários Utopianos à essa religião. Os utopianos tem liberdade de culto e tolerância religiosa, mas são vistos como suspeitos os que não acreditam em uma força na natureza que tudo rege, tenhya ela o nome que tiver, ou não acreditam na imortalidade da alma.
A caça é proibida, por ser considerada crueldade. Houve outras interações culturais na Utopia. Gabriel, que permaneceu lá por cinco anos ensinou grego. Todos ficaram admiradores da cultura grega. Gabriel passou alguns livros clássicos. Gabriel também ensinou o cristianismo, e conquistou muitos adeptos. Todos concordam que existe um ser supremo. Os materialistas são desprezados como resultado de uma natureza inerte e impotente. Existem poucos padres. Mas há festas religiosas todos os meses, e um culto muito poderoso, que enche todos de reverência e temor à Deus. O sacerdote nessas ocasiões uma ropua diferente, feita de penas. Depois da passagem inicial , todos cantam. A música é vista como uma tipo especial de prazer, que embevece todos os sentidos ao mesmo tempo.
A guerra na Utopia é motivo de vergonha, mas às vezes é necessária. Os zapoletas, de uma nação vizinha vivem para a guerra e são semi selvagens. Todos são treinados para defender a República em caso de guerra. Mas são pacíficos. Os sacerdotes rezam primeiro pela paz e depois pela vitória de Utopia. Se um utopiano é humilhado em terra estrangeira, exige-se a punição dos culpados. Se o caso se complicar, é guerra. Mas ninguém busca a glória no campo de batalha. Preferem até pagar mercenários para lutar em seu lugar, visto que tem acúmulo de ouro. A única função do ouro é pagar mercenários, além é claro de servir para a feitura de pinicos e correntes para escravos. Na ilha tem escravos, que são geralmente prisioneiros de guerra ou criminosos. Existem alguns estrangeiros que se oferecem para serem escravos, só para poderem viver na ilha. esses são muito respeitados, pois o trabalho é algo enaltecido por todos. Os utopianos são muito patrióticos, preferem qualquer um de seu país à um rei estrangeiro. Na ilha, todos estão em casa em qualquer cidade. Viajam com um visto do príncipe. As cidades não são muito distantes. E apesar de ninguém ter nada, todo mundo é rico. Nos centros das casas são depositados materiais de primeira necessidade produzidos, que são pegos pelos pais de famílias.
More ergueu seu protesto, principalmente contra as injustiças da Inglaterra de Henrique VIII. Ataca a monarquia e as instituições, bem como a vida de luxos inúteis em cima do trabalho de outros. Se inspirou em Platão e anarquistas e comunistas se inspiraram nele.
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